ENTREVISTA: Walck - Coach da Vivo Keyd

ENTREVISTA: Walck - Coach da Vivo Keyd

Respostas francas de quem está no outro lado da moeda!
 
A TEAMPLAY voltará com uma série de entrevistas e o primeiro convidado foi Guilherme "Walck" Moreno, coach da equipe feminina de Counter Strike: Global Offensive da Vivo Keyd. Na entrevista, Walck explica o que falta para as jogadoras brasileiras conquistarem um bom resultado em eventos nacionais e explica que não é necessário treinar com os melhores para se ter um resultado expressivo.

 

Olá Walck, primeiro se apresente a comunidade e diga qual é a sua função no cenário no momento?

Walck: Olá, meu nome é Guilherme Moreno e tenho 27 anos. Atualmente sou treinador da line-up de cs:go feminino da Vivo Keyd


A nossa primeira pergunta é bem simples, por que nenhum time feminino no Brasil consegue um resultado "decente" contra as principais equipes do país/continente?

Walck: Eu não acho que nenhum time feminino não tenha conseguido um resultado decente. Eu pego como exemplo o próprio time da Keyd, que quando jogamos contra alguns dos melhores times masculinos, o resultado não foi elástico. Vide o showmatch contra a Merciless no Rock in Rio ou contra a W7M na XLG. Pelo o que eu lembre, o resultado não foi elástico, mas voltando para o asssunto, eu concordo que a esmagadora maioria dos times femininos não conseguem um bom resultado contra times masculinos.


GaBi, Walck e Bizinha

Na sua visão como ex-jogador de CS 1.6 e atualmente treinador, o que falta para essas equipes conseguirem um resultado melhor? Estrutura? Igualdade no tratamento? Treino contra as melhores equipes? Pois é o que a jogadora Amanda "AMD" Abreu diz em seu Twitter: "E é exatamente essa a diferença de cenário feminino e masculino. Não temos as mesmas oportunidades, e não são todos times masculinos que querem treinar contra nos, estamos um nivel abaixo sim, mas só treinamos nesse nível, como evoluir e superar um time top1 masculino se ele não treina com a gente?"

Walck: Eu não acredito que a estrutura para treino seja um dos pontos, afinal, nós temos a plataforma da Gamers Club e podemos alugar ou até mesmo criar servers em casa para praticar o tático com o time.

Hoje em dia, homens e mulheres tem a mesma acessibilidade, logo acredito que a igualdade para se dedicar ao jogo não seja o ponto chave, afinal todas as ligas permitem que times femininos se inscrevam sem qualquer problema.

Treinar contra as melhores equipes pra mim é algo estúpido e não faz sentido algum. Você não pode por a culpa nas melhores equipes, isso é transferir a sua responsabilidade para os times que não tem nada a ver com isso. É a mesma coisa que você colocar a culpa no universo por suas falhas pessoais. Você só vai perder tempo reclamando e não vai agir para melhorar. Ganhando prestígio e tendo resultados, as melhores equipes irão te dar oportunidades de treino. Pode até ser egoísmo das melhores equipes em querer treinar contra as melhores, mas tudo bem, ninguém é obrigado a nada.


A sua equipe treina contra equipes masculinas? Ou apenas fazem treinos táticos e jogam o que tem de disponível?

Walck: Nos treinamos contra os times masculinos e quando os melhores não estão disponíveis, treinamos com equipes menores que estão na Liga Pro ou Principal. Se não der para marcar nenhum treino específico, nós usamos o tempo para treinar com o que tem disponível na Gamers Club.


O que faltou para a Vivo Keyd conquistar resultados melhores na Intel Challenge Katowice 2018 e WESG Finals 2017?

Walck: Treinar contra as principais equipes do Brasil, risos. Agora falando sério, a nossa expectativa era de ser campeão, afinal nós fomos a primeira equipe que não foi para o exterior apenas para passear. Quando chegamos nos campeonatos, enfrentamos equipes que tínhamos muita pouca informações e a derrota para Squared Prospects na semifinal da IEM foi um balde de água fria.

A falha foi nossa, mas foi muito difícil obter informações desse time específico e elas apresentaram um jogo muito surpreendente, mas mesmo assim, o resultado da IEM foi um recorde para o CSGO femininino brasileiro. Já na WESG a gente acabou sendo eliminados da competição invictos, o que mais doeu nisso tudo foi que os dois times que empatamos, fizeram a grande final do torneio.


Flusha e Walck

 

Você acredita que o seu time, chegará a Liga Pro da Gamers Club? Ou no momento, vocês não desejam isso?

Walck: No modo que o torneio funcionava antes, eu acredito que chegaríamos sim, afinal, fomos a única equipe a subir para a liga principal e chegar diversas vezes nos playoffs. Porém, com a atual mudança para oito equipes o nível ficou bem mais qualificado, mas acredito que a curto e médio prazo seria impossível. Mas se trabalharmos certinho, eu acredito que esse resultado será possível sim.


Se você pudesse mudar alguma coisa no cenário, seja na estrutura ou nas competições, o que você pudaria e por que mudaria?

Walck: Nas estruturas ou competições do cenário feminino, eu mudaria as premiações e a quantidade de eventos realizados. Mas se existe uma coisa que nos preocupa e muito é a entrada de homens nas competições. Alguns meninos se passam por meninas e disputam a Liga Feminina em contas fakes, se passando por mulher. Graças a Gamers Club isso está mudando, afinal estão exigindo que as meninas apresentem documentos na hora do registro.


Porque a Vivo trocou de line-up, mesmo fazendo o melhor resultado feminino no CS:GO?

Walck: O motivo no momento a gente não pode falar, o que eu posso deixar claro pra todos aqui é que quando você representa uma organização, você simplesmente não tira um jogador da noite pro dia. Existiram motivos para o fato e esses motivos um dia serão revelados.


Vivo Keyd antes do embarque para Europa

Quais os próximos passos da equipe nesse ano?

Walck: Agora com a nova jogadora na line-up, o nosso próximo passo é desenvolver um novo estilo de jogo e apresentar algo novo por parte da Vivo Keyd. E o segundo e não menos importante é manter o topo do cenário em nossas mãos.


E fechando o nosso bate-papo Walck, o que é necessário para um time feminino bater de frente contra equipes masculinas?

Walck: Primeiro de tudo, muita dedição! Culturalmente as meninas já estão um passo atrás dos homens por começarem a ter contato com eSport muito tarde, e com o menor número de meninas no cs:go a probabilidade de novos talentos surgirem é muito menor. Dedicação ao extremo, afinal, tivemos uma época na Keyd que treinávamos das 23 horas até às 4 da manhã sem ter campeonato pela frente. Para você se dar bem no CS, você precisa todo dia estar estudando o jogo, a teoria, as mudanças, aprendendo as novas bombas e treinando seu individual (praticando no deathmatch, maps de aim e etc).

Ahh, cobrar o time para fazer a mesma coisa que você é outro passo muito importante, por que como eu disse acima, transferir a responsabilidade é algo muito chato. Você não pode depender apenas dos melhores times ou jogadores para evoluir, você precisa buscar isso dentro de você, treinando, correndo atrás e se dedicando.

Lembre-se que os campeonatos são para todos, treine, evolua e dispute todos os campeonatos possíveis e apresente resultados que você terá respeito, seja homem ou mulher. 


Obrigado pela entrevista, boa sorte como treinador e boa sorte para a sua equipe no restante da temporada

Walck: Eu que agradeço e deixo uma rápida mensagem aqui, não confundam egoísmo com machismo, eu tenho certeza que todas as equipes respeitam os times femininos. Eles só jogam entre si por que tem o egoísmo de querer melhorar, pode ter certeza que eles não jogam contra equipes mais fracas independente do gênero da equipe